Como ouvir o absurdo? A elaboração do traumático e a analista como testemunha
endereçamento do trauma, elaboração, figurabilidade e repetição
Há alguns dias vi uma notícia estarrecedora. Uma mulher indígena foi presa em uma cela masculina com seu bebê recém nascido e foi continuamente violentada durante meses. Abriu-se em mim aquele rombo que só a escuta do absurdo abre.
Se ao ler a notícia o rombo do absurdo é gigantesco, não consigo me esquecer de todas as vezes em que o ouvi na clínica. Psicanalistas mulheres que atendem mulheres, em sua grande maioria, sabem que não escapamos desses relatos. Muito pelo contrário.
E como ouvir o absurdo? Como ouvir um sujeito que foi continuamente fragmentado, quebrado, pulverizado? Como ouvir o endereçamento de um traumático que não é sequer narrável? Como possibilitar a narrativa do horror e sustentar essa escuta?
As verdadeiras testemunhas, as testemunhas integrais, são aquelas que, por terem tocado o fundo, não podem testemunhar. Morreram ou se tornaram mortos-vivos. Os sobreviventes falam em seu lugar, sabendo que só testemunham pela impossibilidade de testemunhar. Assim, aquilo que é narrado nos relatos não é o essencial da experiência traumática. Sua vivência nua e crua permanece inenarrável. — Jô Gondar
Bom, na escuta do traumático estamos diante de um paradoxo importante para a prática clínica: a




